segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Causos e Coisas Cuiabanas

Olá, pessoal! Trago aqui alguns depoimentos que foram publicados no livro “do falar cuiabano” 1978, um trabalho de pesquisa de Maria Francelina Ibraim Drummond. Este trabalho foi dividido em 5 livros caracterizando o falar cuiabano. Tenho um desses livros comigo e agora decidi que vou apresentar alguns contos dos personagens do local que fizeram parte da pesquisa. É muito rico em cultura, e quero dividir com vocês das escolas de todo Brasil. Quem sabe, a autora resolve publicá-lo novamente.



Causos e Coisas


“Várzea Grande era pasto de gado. Era rodeio de gado. Gado que vinha do Pantanal. Os boiadeiros aquartelava ali, prá atravessá o gado prá ir pro matador. Tinha o encosto do gado. Ai veio o pessoal do Paraguai que ficou ali pastoreando o gado. Na Ponte Nova, era a travessia do gado. Atravessava tudo nágua. A boiada descia nágua. O que morreu, morreu; o que atravessava, atravessava. Prá chegá no matador em Cuiabá, no Terceiro, onde acabou a cidade agora(*). Eu sube que ai tinha umas casas de capim. Era aquartelamento de gado. É. Vieram depois duma guerra que teve no Paraguai. Quando acabaram, lá”.
*-Referia-se à enchente de 1974 que destruiu o bairro


Referindo-se ao minhocão. Lenda cuiabana.
“ Diz que come gente. Já vi o lombo dele. Agora, não sabe a cara dele. Ninguém num sabe como é. diz que pega. diz, porque eu mesmo não vi. o que a gente não vê diretamente, não pode. ia subindo, aquela onda. era igual o batelão, virado assim. minhocão é bicho dágua. o vizinho falou que ouviu aquele barulhão”.


Reflexão
“Tinha que nasce e ficá pra toda vida. Este ainda num teve. Quem morreu, já foi, num voltá mais. Diz que tem espírito que chama. pode ser que volta, eu num vi. Eu teve pai, teve mãe. foi e num volto”.


O primeiro carro em Cuiabá
“Lembro, um dia, o primeiro carro da cidade. tava ali na Rua de Baixo. Chegou um pessoal olhando assim. falando assim um pra outro; “espia a rodinha dele. Passou, olha ali” admirou de ver o carro. Depois veio o carro, mais atrás, veio o oroplano. quando chegou o oroplano, veio gente rezando que o mundo ia acabá. Ninguém num conhecia o que era esse. Só sentava no Campo Velho. daí é que veio o avião de canoa, de sentá nágua. Não colocava os bonde, só colova os trilho. alcancei as formalidade dele”.



Os “modelitos” da época
“Fazia roupa em casa. Era o tempo que vestia camisola, aquele camisão. Assim que era a roupa nossa. O metro de riscado era oitocentos. mas oitocentos era muito dinheiro que nem cabeça de sapo. Ave Maria! Quem andava de terno branco, era grande, era turuna. Cheguei de vê metro de pano, de genovesa. É igual aquela cobra coral. Trabalho com comércio desde mil ano. Era a libra. Pesado com um varão. Botava o peso numa ponta e objeto noutra. Arroz era plantado num prato. “Plantei um prato, plantei dois pratos”. Uns já dizia assim:”plantei um salamim. Salamim é litro. Hoje nem num fala mais litro como outra hora. Hoje é quilo, uma quarta, meia quarta. O dinheiro era dinheiro preto. Cobre preto. Cinquinho: um vintém é quatro réis. Uma pataca é quatrocentos réis. Alcancei muito esta conta “.


O peixeiro
“Minha vida é peixe. Sempre foi compra e vende peixe”.


Matriz

“São Bom Jesus foi achado na Prainha. Puseram ela na igreja de São Gonçalo. Quando assustaram ele tava de novo no lugar onde acharam. Ai fizeram uma igrejinha ali e ficou. Até fazer a igreja Matriz de hoje”.


Rondon

“Quando chegamo na aldeia dos Tapaíuna, eles vieram flechar para matar nós. Ai Rondon, montado num cavalo, trançou língua com o comandante dos índios, e saiu tudo pro mato. Índio podia matar nós; mas índio ninguém num podia matar. Se fizesse qualquer coisa contra índio, Rondon mandava formar quadrado ai e tocava castigo. Algum que abusava com índio, ele castigava”.

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