segunda-feira, 18 de julho de 2011

EU NUNCA DESISTI DELES!



Em 1980, iniciei minha vida de educadora. Havia saído do magistério e passei no concurso público estadual para o cargo de professora I a IV série. Este foi o maior concurso público para os profissionais da educação já realizado no estado de Mato Grosso. Enfim, fui nomeada para lecionar na Escola Estadual Othon Viegas de Pinho, hoje não existe mais, no bairro Pico do Amor. Lá, encontrei o apoio e o incentivo de algumas professoras mais velhas e que acreditavam que a educação estava passando por um momento de transformação e melhoria. Foi neste ambiente que cheguei. Ana, Lieni, Edna, Almira, entre outras. Éramos as mais jovens com apenas 21 anos, sem nenhuma experiência de sala de aula, estava a fim de me entregar, de mostrar o que aprendi no curso de magistério. Fomos muito bem recebidas eu, e mais duas professoras com a mesma idade.

A reunião pedagógica foi realizada para definir as turmas que iríamos pegar.As professoras mais experientes e conhecedoras da realidade na escola escolheram alunos que não eram repetentes, e aboliam firmemente os alunos que eram repetentes de sua Tuma. Por serem mais antigas sentiam - se no direito de exigir alunos bons que aprendiam com facilidade e que tinham disciplina em sala de aula. Fiquei apenas observando a reação das professoras e suas justificativas para não aceitação daqueles alunos que elas mesmas estavam repetindo ano a após ano. E o que sobrou para nós, as novatas da escola, os alunos repetentes. Assim que fui chamada a diretora me indicou uma sala de alunos problemáticos com a disciplina e repetentes, e no entender na diretora eu era jovem e poderia transmitir aos alunos a companhia de uma irmã mais velha. Não sabia, nem imaginava o que estava por vir. No primeiro dia de aula quase morri do coração! Entrei na sala de aula e encontrei mais de quarenta alunos, alguns já nos seus 15 ou 16 anos, outros 12, 14 anos e os menores 10, 9 anos. Por um instante pensei em desistir, o medo de não saber controlar aqueles alunos era imenso. Junto havia um aluno especial, filho de uma funcionária da escola. Ah! Os filhos de funcionários que não respeitavam professores ficavam com as professoras iniciantes. Pois bem, ele estava lá. No magistério eu havia aprendido que a autoridade, e o respeito poderiam ser pontos fortes na sua didática. Resolvi conhecer meus alunos e entender porque reprovavam tanto. Os alunos estavam naquela sala porque reprovavam 2, 3, 4, 5 anos seguidos na primeira série e não avançavam para a série seguinte, mas desisti de questioná-los.

Fiquei desnorteada, sem saber por onde começar meu trabalho. Conversava com minhas irmãs, e colegas desabafando a minha insegurança e minha decepção, porque os alunos faziam muita bagunça não me respeitavam por mais que eu gritasse na sala. Durante o primeiro bimestre estava exausta, cansada e deprimida. Aquele aluno especial ficava gritando no final sala enquanto eu copiava as tarefas no quadro negro, e os outros alunos riam, gritavam também, andavam pela sala, copiavam uns dos outros. Indignada com a situação procurei a diretora e coloquei o problema. Ela nada podia fazer, e dizia que eram alunos matriculados e já estavam na escola há muitos anos. Qualquer coisa que eu fizesse estava bom. Decidida em ajudar de qualquer maneira aqueles alunos, resolvi mudar minha estratégia de sala de aula. Eles gostavam de brincar, de gritar, de pular, de correr, de extravasar toda sua energia acumulada, esse era o ponto. Mudei minha postura autoritária junto a eles, e realizava durante a semana três aulas fora da sala de aula no quadra da escola descoberta e em meio a um sol quente. Não era maldade, mas era o único espaço livre que tínhamos na época. Lá sentada com meus alunos num enorme circulo, sob a pouca sombra que batia na quadra vinda das paredes das salas de aula, fazia brincadeiras de batata quente, lenço atrás, corre cutia e stop, etc. Cada brincadeira era modificada de acordo com o conteúdo estudado na sala. Por exemplo: a batata quente era soletrara por cada alunos BA- ta- ta- quen- te....... e assim sucessivamente até que a brincadeira acabava. Corre cutia era dita diferente se estávamos trabalhando ciências dizíamos: corre vertebrado de noite de dia ou corre invertebrado de noite e de dia..... e assim reinventava as brincadeiras. Na matemática a brincadeira era com lenço atrás onde contávamos um, dois, três .......... até terminar a brincadeira. Na sala de aula cobrava dos alunos a disciplina e caso não cumprissem não teríamos a brincadeira na quadra. Isso, desenvolveu nas crianças um elo de responsabilidade e de respeito comigo. Claro, na sala de aula os elogios e presentinhos como um pirulito, duas balinhas, para os alunos que liam e estavam superando as dificuldades. Passei a cobrar mais dos alunos queria vê-los lendo superando suas dificuldades e entendendo que não eram piores que os outros, eram tão bons quanto. Faltava ainda, integrá-los aos outros, fazer com que não se sentissem inferiorizados. Conversei com as outras professoras e juntas pedimos ajuda no comércio local, na Maçonaria e fizemos uma linda festa do dia da criança com brincadeiras, danças, e muita guloseima além dos presentinhos para as crianças. Isso possibilitou aos meus alunos o prazer de estar na escola. Minha sala não havia desistência, coisas corriqueira em anos anteriores. No final do ano eu tinha recuperado mais de 80% dos alunos repetentes, e fiz uma festinha com bolos, sucos e presentinhos para estes alunos que me ensinaram que na educação só não há jeito para as pessoas que se acomodam e desistem de lutar.

Professora Eliana Candido.

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